O Noticias de Fornos de
Algodres vai dedicar especial relevo às instituições do concelho, na promoção e
divulgação de todas as suas atividades. Com esta ideia pretendemos que as
instituições divulguem o que de melhor se faz, todas as suas atividades e
projetos, bem como que a comunidade fornense conheça o que de bom que se faz em
Fornos de Algodres. Decidimos começar pela instituição mais antiga do nosso concelho,
pois comemorou o ano passado os seus 350 anos de existência.
Assim fomos ao encontro de
Luís Miguel Ginja, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Fornos de
Algodres, que de uma forma apaixonada e realista abordou os temas importantes
da instituição.
P:
Quando chegou à Santa Casa da Misericórdia efetuou algumas roturas com o
passado. Que benefícios a instituição obteve com essa medida e quais os prejuízos?
R:
Na
altura quando decidimos avançar para a Santa Casa da Misericórdia entendemos que
era uma instituição muito fechada, a adesão de irmãos estava suspensa há muitos
anos, as pessoas de Fornos não sabiam que era uma instituição nossa e que assim
se deveria manter. Era uma instituição que não estava aberta à comunidade,
levando-a que o primeiro objetivo a que nos propusemos tivesse sido
precisamente abranger e alargar a visibilidade da santa casa ao concelho de
Fornos de Algodres. A rotura com o passado deu-se com o romper de uma “suposta
parceria” que no nosso entender não deveria existir que era com um privado,
vindo a confirmar-se passados dois anos e meio que não houve mais nenhuma
informação sobre essa parceria. O primeiro ano após termos assumido a gestão da
instituição foi muito difícil, pois encontrei dividas a fornecedores e à banca
no valor de cerca de 250.000 €, não tínhamos crédito no mercado, os
fornecedores já não nos forneciam nenhum tipo de materiais, uma vez que
tinha-mos uma divida considerável para com estes, entendendo que o primeiro ano
seria para regularizar dividas, tendo recorrido ao apoio do fundo de
reestruturação do sector solidário, que nos foi cedido através do governo e da
união das misericórdias conseguimos liquidar as dividas aos fornecedores e endireitar
a casa. Hoje a casa é nossa e não de terceiros. Hoje a instituição tem mais do
dobro dos irmãos que encontrámos, sendo que quando entrámos eram cerca de 90,
hoje ultrapassa os 220. A taxa de ocupação das valências que temos tinha uma
adesão dos fornenses de cerca de 10%, encontrando-se hoje nos 70%, estando até
hoje os objetivos a que nos propusemos cumpridos, abrir a santa casa a Fornos,
devolver a Santa Casa aos irmãos e sobretudo abrir a mesma aos utentes, pois
são esses que mais beneficiam da estrutura.
P: O
slogan da sua campanha foi “por uma irmandade aberta”, o que quis transmitir
com este slogan?
R: Nós
não podemos restringir ninguém de ser irmão da Santa Casa, desde que cumpra com
os requisitos referidos nos estatutos, qualquer pessoa se pode propor, a título
de exemplo que seja católico, pratique o ato cristão, pois nós não sendo uma
instituição que depende hierarquicamente da igreja, somos uma instituição
ligada à igreja e os órgãos sociais a ser eleitos têm que ser confirmados pelo
Senhor Bispo da diocese de Viseu.
P: Que
valências neste momento a instituição tem a funcionar?
A instituição tem unidade de
Cuidados Continuados, uma estrutura residencial para pessoas idosas e
abrangemos desde o ano passado um contrato local de desenvolvimento social designado
CLDS 3G. Eu entendo que poderia alargar muito mais as valências, mas Fornos de
Algodres é um concelho que já tem a área da infância, a área da deficiência
noutra instituição, então entendemos que nos deveremos alargar sobretudo nas
que já temos. Vamos abraçar um projeto de Cuidados Continuados ao domicílio, os
utentes que estão na instituição (Santa Casa) e
noutras que sejam aqui da zona, ao saírem da unidade Santa Casa teriam acompanhamento
pelos nossos técnicos no domicílio.
P: A
instituição foi contemplada pela fundação PSA PEUGEOT CITROEN, que projeto foi
apresentado e quais os apoios adquiridos?
Decidimos apresentar uma
candidatura à PSA PEUGEOT CITROEN que na perspetiva de construirmos um centro
de reabilitação teríamos de adquirir uma viatura que levasse não só os nossos
técnicos a casa das pessoas, mas também trazer as próprias pessoas ao centro de
reabilitação. Foi uma candidatura engraçada, pois foi a nível mundial, houve
mais 80 projetos que foram selecionados e nós tivemos a felicidade de receber a
quantia de cinco mil euros para aquisição de uma viatura. Neste momento o
concurso público também está em fase de abertura para adquirir uma viatura,
vamos ver o que o futuro nos reserva.
P: A
ISCM comemorou os seus 350 anos, que balanço nos pode fazer?
Um balanço muito positivo,
sendo a instituição mais antiga de Fornos de Algodres, 350 anos, ter a visita do
ministro, do presidente da União das Misericórdias, do Senhor Bispo, conseguir
que os irmãos estivessem todos num almoço de confraternização onde estiveram
mais de 150 pessoas, a edição do livro dos nossos compromissos, acho que isto
diz o suficiente da visibilidade pública que temos hoje em dia. É importante
referir que 350 anos, é algo que nos engrandece a todos. As comemorações
decorreram com normalidade, com uma postura muito correta e participativa quer
dos irmãos quer da comunidade fornense.
P: No dia
das comemorações D. Ilídio referiu que era o Bispo de Fornos, revela carinho
por esta localidade?
Sobretudo porque ele estudou
em Fornos, nós temos uma particularidade no concelho de Fornos, embora
pertencendo ao distrito da Guarda, pertencemos à Diocese de Viseu e desde que
eu entrei uma das primeiras coisas que fizemos quando tomamos posse desta
gestão, foi pedir audiências ao Senhor Bispo D. Ilídio que prontamente nos
recebeu. A relação que ele hoje tem com a instituição Santa Casa de Fornos de
Algodres é uma relação de fraternidade e amizade. A titulo de exemplo o Senhor
Bispo atende o telefone directamente. É uma pessoa muito simples e muito
correta. Outro exemplo é o facto de quando somos eleitos para uma instituição
como a Santa Casa os nomes têm que ser outorgados pela entidade eclesiástica,
no qual o Senhor Bispo demorou uma hora, nós chegamos com a documentação e ele
fez questão de outorgar quer os nomes quer o nosso compromisso.
P:
Qual o impacto da segunda edição da feira da saúde?
Muito grande, a Feira da Saúde
é o ex libris da instituição, um conjunto de técnicos entenderam quando chegámos
à Santa Casa que era importante divulgar mais o serviço que nós prestamos na
instituição. Esta segunda edição extrapolou tudo. Tivemos a abertura pelo
Secretário-geral da União das Misericórdias, o que também evidência a importância
que neste momento a Santa Casa tem na comunidade. Eu tenho que referir isto,
pois é importante, o provedor só é provedor com “P” grande se tiver por trás de
si técnicos com essa qualidade e que nos ajudem no trabalho, o provedor decide
mas não direciona muito o serviço técnico, eu tenho a particularidade de ter
uma equipa muito nova mas muito competente e isso para mim é um orgulho enorme.
P: Encontrando-se
à dois anos a liderar a ISCMFA, que balanço nos faz?
Eu sou suspeito a dizer isso,
mas acho que é um balanço muito positivo apesar dos contratempos que tivemos,
durante estes dois anos tivemos tudo o que era possível ter de inspeções, desde
a autoridade das condições de trabalho, entidade reguladora da saúde, segurança
social, tivemos todo o tipo de inspeções. Os erros que nos foram referenciados
conseguimos colmatá-los, neste momento a situação é estável e neste momento
ia-me embora de cabeça erguida.
P:
Considera que o ano de 2017 será importante para a instituição?
É um ano de investimentos, nós
pretendemos candidatar-nos aos fundos comunitários, não só ao aumento das valências
da Santa Casa, mas também à recuperação dos altares laterais da Igreja da Misericórdia,
estando estes dois projetos em fase de finalização para podermos apresentar aos
fundos comunitários, é um projeto ambicioso mas temos que rentabilizar mais
porque nós temos os quadros, temos os técnicos, hoje temos uma taxa de ocupação
de 100% se tivéssemos mais 20 camas as 20 camas estariam ocupadas, falta-nos é
essa capacidade, vamos tentar mudá-la.
P: Que
palavras gostaria de deixar aos fornenses e a toda a comunidade em geral?
Somos uma instituição aberta,
procurem-na, simplesmente isto procurem-na porque ela é de todos, não é nem
órgãos sociais, nem dos funcionários, nem dos utentes, é uma instituição da
comunidade e a comunidade que procure a instituição. Estaremos cá para ajudar
naquilo que é possível e naquilo que temos condições. É importante referir que
nós temos desde protocolos com a escola onde existe uma parceria com um técnico
de terapia da fala, desde protocolos com a Associação Desportiva, com a Câmara
Municipal, com os Bombeiros Voluntários, a Associação de Promoção Social
Cultural e Desportiva de Fornos de Algodres, com todas as instituições de
Fornos, direta ou indiretamente estamos a trabalhar com todas. É a instituição
mais antiga de Fornos e todos temos que a respeitar e usufruir dela.